A Desindustrialização Brasileira à Luz da Tradição Estruturalista: uma análise multissetorial (2000-2018)
Resumo
Este artigo realiza uma análise da desindustrialização setorial brasileira, baseada no diferencial de intensidade tecnológica, para o período entre 2000 e 2018. Como referencial teórico, parte-se dos estudos multissetoriais, no campo da tradição estruturalista, que avaliam a capacidade dos setores industriais promoverem o crescimento econômico em função de seu grau de intensidade tecnológica. Ao incorporar as contribuições dos estudos multissetoriais à análise da desindustrialização, o artigo contribui com o debate, verificando a heterogeneidade deste processo entre os setores e enfatizando a importância de avaliar-se a composição da indústria. Para o cálculo da desindustrialização setorial, são utilizadas matrizes de insumo-produto como base de dados. Como resultados, observa-se que a desindustrialização é mais acentuada nos setores de alta intensidade tecnológica, justamente aqueles com maior capacidade de promover e sustentar o crescimento econômico. Além disso, conclui-se que a estrutura produtiva industrial se encontra fragilizada em termos da capacidade de dinamização do crescimento, pois está concentrada em setores de média-baixa intensidade tecnológica, enquanto os setores de média-alta e alta intensidade tecnológica representam uma parte reduzida da indústria brasileira. Desse modo, reforça-se a gravidade da desindustrialização brasileira e a importância de avaliá-la de forma desagregada, para compreender os impactos sobre o crescimento econômico do país.
Downloads
Referências
ARAUJO, R. A.; LIMA, G. T. A structural economic dynamics approach to balance-of-payments constrained growth. Cambridge Journal of Economics, v. 31, p. 755-774, 2007.
BONELLI, R.; PESSÔA, S. A. Desindustrialização no Brasil: um resumo da evidência. Texto para discussão. FGV/IBRE, 07-2010, 2010.
BRESSER-PEREIRA, L. C. The Dutch disease and its neutralization: a Ricardian approach. Brazilian Journal of Political Economy, v. 28, n. 1, p. 47-71, 2008.
CRAMER, C.; TREGENNA, F. Heterodox Approaches to Industrial Policy and the Implications for Industrial Hubs. Em: A. Oqubay and J. Y. Lin (eds.). The Oxford Handbook of Industrial Hubs and Economic Development. Oxford: Oxford University Press, 2020, cap. 3, p. 40-63.
FELIPE, J.; MEHTA, A.; RHEE, C. Manufacturing matters...but it’s the jobs that count. Cambridge Journal of Economics, v. 43, p. 139-168, 2019.
FERREIRA, M. J. B. Indústria Aeronáutica Brasileira: as especificidades de um modelo nacional de inserção global. Em: A. C. Diegues, F. Sarti (orgs.). Brasil: Indústria e Desenvolvimento em um cenário de transformação do paradigma tecno-produtivo. Curitiba: Editora CRV, 2021, cap. 10, p. 219-239.
GUILHOTO, J. J. M.; SESSO FILHO, U. A. Estimação da matriz insumo-produto a partir de dados preliminares das contas nacionais. Economia Aplicada, v. 9, n. 2, p. 277–299, 2005.
GUILHOTO, J. J. M.; SESSO FILHO, U. A. Estimação da Matriz Insumo-Produto Utilizando Dados Preliminares das Contas Nacionais: Aplicação e Análise de Indicadores Econômicos para o Brasil em 2005. Economia & Tecnologia, v. 6, n. 23, p. 53-62, 2010.
HIRATUKA, C.; SARTI, F. Transformações na estrutura produtiva global, desindustrialização e desenvolvimento industrial no Brasil. Revista de Economia Política, v. 37, n. 1, p. 189-207, 2017.
KALDOR, N. Productivity and Growth in Manufacturing Industry: A Reply. Economica, v. 35, n. 140, p. 385-391, 1968.
KALDOR, N. Capitalism and industrial development: some lessons from Britain's experience. Cambridge Journal of Economics, v. 1, n. 2, p. 193-204, 1977.
LEONTIEF, W.W. The structure of American economy, 1919–1929: an empirical application of equilibrium analysis. Harvard University Press, Cambridge, 1941.
MAGACHO, G. R.; McCOMBIE, J. S. L. A sectoral explanation of per capita income convergence and divergence: estimating Verdoorn’s law for countries at different stages of development. Cambridge Journal of Economics, v. 42, p. 917-934, 2018.
MAGACHO, G. R.; McCOMBIE, J. S. L. Structural change and cumulative causation: A Kaldorian approach. Metroeconomica, v. 71, p. 633-660, 2020.
MARCONI, N.; ROCHA, M. Taxa de câmbio, comércio exterior e desindustrialização precoce – o caso brasileiro. Economia e Sociedade, v. 21, p. 853-888, 2012.
MILLER, R. E.; BLAIR, P. D. Input-Output Analysis: Foundations and Extensions. 2ª ed. Cambridge: Cambridge University Press, 2009.
MORCEIRO, P. C. Desindustrialização na economia brasileira no período 2000-2011: abordagens e indicadores. Cultura Acadêmica, São Paulo, 2012.
MORCEIRO, P. C. Nova Classificação de Intensidade Tecnológica da OCDE e a Posição do Brasil. Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, 2019.
MORCEIRO, P. C.; GUILHOTO, J. J. M. Desindustrialização setorial e estagnação de longo prazo da manufatura brasileira. Texto para discussão. NEREUS/USP, 01-2019, 2019.
MORCEIRO, P. C.; GUILHOTO, J. J. M. Sectoral deindustrialization and long-run stagnation of Brazilian manufacturing. Brazilian Journal of Political Economy, v. 43, n. 2, p. 418-441, 2023.
OREIRO, J. L.; FEIJÓ, C. A. Desindustrialização: conceituação, causas, efeitos e o caso brasileiro. Revista de Economia Política, v. 30, n. 2, p. 219-232, 2010.
PALMA, J. G. Four sources of de-industrialisation and a new concept of the Dutch disease. Em: J. A. Ocampo (ed.). Beyond reforms: Structural dynamics and macroeconomic vulnerability. Palo Alto: Stanford University Press / Banco Mundial, 2005, cap. 3, p. 71-116.
PALMA, J. G. Desindustrialización, desindustrializacion “prematura” y “sindrome holandês”. El Trimestre Económico, v. 86, n. 4, p. 901-966, 2019.
ROMERO, J. P.; McCOMBIE, J. S. L. The Multi-Sectoral Thirlwall’s Law: evidence from 14 developed European countries using product-level data. International Review of Applied Economics, v. 30, n. 3, p. 301-325, 2016a.
ROMERO, J. P.; McCOMBIE, J. S. L. Differences in increasing returns between technological sectors: A panel data investigation using the EU KLEMS database. Journal of Economic Studies, v. 43, n. 5, p. 863-878, 2016b.
SOUZA, K. C. Q. D.; SILVA, G. J. C. D. Taxa de câmbio real e produtividade da indústria brasileira no longo prazo: teoria, modelo e evidências para o período recente. Revista de Economia Política, v. 41, n. 4, p. 657-678, 2021.
THIRLWALL, A. P.; HUSSEIN, M. N. The Balance of Payments Constraint, Capital Flows and Growth Rate Differences between Developing Countries. Oxford Economic Papers, v. 34, n. 3, p. 498-510, 1982.
THIRLWALL, A. P. A Plain Man’s Guide to Kaldor’s Growth Laws. Journal of Post Keynesian Economics, v. 5, n. 3, p. 345-358, 1983.
TREGENNA, F. Characterising deindustrialisation: An analysis of changes in manufacturing employment and output internationally. Cambridge Journal of Economics, v. 33, p. 433-466, 2009.
TREGENNA, F. Deindustrialisation: An issue for both developed and developing countries. Em: J. Weiss e M. Tribe (eds.). Routledge Handbook of Industry and Development. Londres: Routledge, 2016, cap. 6, p. 97-116.
TREGENNA, F.; ANDREONI, A. Deindustrialisation reconsidered: Structural shifts and sectoral heterogeneity. UCL Institute for Innovation and Public Purpose, Working Paper Series (IIPP WP 2020-06), 2020.
VERGNHANINI, R. O debate sobre a mudança estrutural da economia brasileira nos anos 2000. Anais do VI Encontro Internacional da Associação Keynesiana Brasileira, 2013.
Copyright (c) 2025 João Guilherme Marques Augusto Monteiro, Roberto Alexandre Zanchetta Borghi

This work is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International License.
- Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).