A Desindustrialização Brasileira à Luz da Tradição Estruturalista: uma análise multissetorial (2000-2018)

  • João Guilherme Marques Augusto Monteiro IE/Unicamp
  • Roberto Alexandre Zanchetta Borghi IE/Unicamp
Palavras-chave: Desindustrialização, Crescimento econômico, Heterogeneidade, Intensidade tecnológica

Resumo

Este artigo realiza uma análise da desindustrialização setorial brasileira, baseada no diferencial de intensidade tecnológica, para o período entre 2000 e 2018. Como referencial teórico, parte-se dos estudos multissetoriais, no campo da tradição estruturalista, que avaliam a capacidade dos setores industriais promoverem o crescimento econômico em função de seu grau de intensidade tecnológica. Ao incorporar as contribuições dos estudos multissetoriais à análise da desindustrialização, o artigo contribui com o debate, verificando a heterogeneidade deste processo entre os setores e enfatizando a importância de avaliar-se a composição da indústria. Para o cálculo da desindustrialização setorial, são utilizadas matrizes de insumo-produto como base de dados. Como resultados, observa-se que a desindustrialização é mais acentuada nos setores de alta intensidade tecnológica, justamente aqueles com maior capacidade de promover e sustentar o crescimento econômico. Além disso, conclui-se que a estrutura produtiva industrial se encontra fragilizada em termos da capacidade de dinamização do crescimento, pois está concentrada em setores de média-baixa intensidade tecnológica, enquanto os setores de média-alta e alta intensidade tecnológica representam uma parte reduzida da indústria brasileira. Desse modo, reforça-se a gravidade da desindustrialização brasileira e a importância de avaliá-la de forma desagregada, para compreender os impactos sobre o crescimento econômico do país.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ARAUJO, R. A.; LIMA, G. T. A structural economic dynamics approach to balance-of-payments constrained growth. Cambridge Journal of Economics, v. 31, p. 755-774, 2007.

BONELLI, R.; PESSÔA, S. A. Desindustrialização no Brasil: um resumo da evidência. Texto para discussão. FGV/IBRE, 07-2010, 2010.

BRESSER-PEREIRA, L. C. The Dutch disease and its neutralization: a Ricardian approach. Brazilian Journal of Political Economy, v. 28, n. 1, p. 47-71, 2008.

CRAMER, C.; TREGENNA, F. Heterodox Approaches to Industrial Policy and the Implications for Industrial Hubs. Em: A. Oqubay and J. Y. Lin (eds.). The Oxford Handbook of Industrial Hubs and Economic Development. Oxford: Oxford University Press, 2020, cap. 3, p. 40-63.

FELIPE, J.; MEHTA, A.; RHEE, C. Manufacturing matters...but it’s the jobs that count. Cambridge Journal of Economics, v. 43, p. 139-168, 2019.

FERREIRA, M. J. B. Indústria Aeronáutica Brasileira: as especificidades de um modelo nacional de inserção global. Em: A. C. Diegues, F. Sarti (orgs.). Brasil: Indústria e Desenvolvimento em um cenário de transformação do paradigma tecno-produtivo. Curitiba: Editora CRV, 2021, cap. 10, p. 219-239.

GUILHOTO, J. J. M.; SESSO FILHO, U. A. Estimação da matriz insumo-produto a partir de dados preliminares das contas nacionais. Economia Aplicada, v. 9, n. 2, p. 277–299, 2005.

GUILHOTO, J. J. M.; SESSO FILHO, U. A. Estimação da Matriz Insumo-Produto Utilizando Dados Preliminares das Contas Nacionais: Aplicação e Análise de Indicadores Econômicos para o Brasil em 2005. Economia & Tecnologia, v. 6, n. 23, p. 53-62, 2010.

HIRATUKA, C.; SARTI, F. Transformações na estrutura produtiva global, desindustrialização e desenvolvimento industrial no Brasil. Revista de Economia Política, v. 37, n. 1, p. 189-207, 2017.

KALDOR, N. Productivity and Growth in Manufacturing Industry: A Reply. Economica, v. 35, n. 140, p. 385-391, 1968.

KALDOR, N. Capitalism and industrial development: some lessons from Britain's experience. Cambridge Journal of Economics, v. 1, n. 2, p. 193-204, 1977.

LEONTIEF, W.W. The structure of American economy, 1919–1929: an empirical application of equilibrium analysis. Harvard University Press, Cambridge, 1941.

MAGACHO, G. R.; McCOMBIE, J. S. L. A sectoral explanation of per capita income convergence and divergence: estimating Verdoorn’s law for countries at different stages of development. Cambridge Journal of Economics, v. 42, p. 917-934, 2018.

MAGACHO, G. R.; McCOMBIE, J. S. L. Structural change and cumulative causation: A Kaldorian approach. Metroeconomica, v. 71, p. 633-660, 2020.

MARCONI, N.; ROCHA, M. Taxa de câmbio, comércio exterior e desindustrialização precoce – o caso brasileiro. Economia e Sociedade, v. 21, p. 853-888, 2012.

MILLER, R. E.; BLAIR, P. D. Input-Output Analysis: Foundations and Extensions. 2ª ed. Cambridge: Cambridge University Press, 2009.

MORCEIRO, P. C. Desindustrialização na economia brasileira no período 2000-2011: abordagens e indicadores. Cultura Acadêmica, São Paulo, 2012.

MORCEIRO, P. C. Nova Classificação de Intensidade Tecnológica da OCDE e a Posição do Brasil. Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, 2019.

MORCEIRO, P. C.; GUILHOTO, J. J. M. Desindustrialização setorial e estagnação de longo prazo da manufatura brasileira. Texto para discussão. NEREUS/USP, 01-2019, 2019.

MORCEIRO, P. C.; GUILHOTO, J. J. M. Sectoral deindustrialization and long-run stagnation of Brazilian manufacturing. Brazilian Journal of Political Economy, v. 43, n. 2, p. 418-441, 2023.

OREIRO, J. L.; FEIJÓ, C. A. Desindustrialização: conceituação, causas, efeitos e o caso brasileiro. Revista de Economia Política, v. 30, n. 2, p. 219-232, 2010.

PALMA, J. G. Four sources of de-industrialisation and a new concept of the Dutch disease. Em: J. A. Ocampo (ed.). Beyond reforms: Structural dynamics and macroeconomic vulnerability. Palo Alto: Stanford University Press / Banco Mundial, 2005, cap. 3, p. 71-116.

PALMA, J. G. Desindustrialización, desindustrializacion “prematura” y “sindrome holandês”. El Trimestre Económico, v. 86, n. 4, p. 901-966, 2019.

ROMERO, J. P.; McCOMBIE, J. S. L. The Multi-Sectoral Thirlwall’s Law: evidence from 14 developed European countries using product-level data. International Review of Applied Economics, v. 30, n. 3, p. 301-325, 2016a.

ROMERO, J. P.; McCOMBIE, J. S. L. Differences in increasing returns between technological sectors: A panel data investigation using the EU KLEMS database. Journal of Economic Studies, v. 43, n. 5, p. 863-878, 2016b.

SOUZA, K. C. Q. D.; SILVA, G. J. C. D. Taxa de câmbio real e produtividade da indústria brasileira no longo prazo: teoria, modelo e evidências para o período recente. Revista de Economia Política, v. 41, n. 4, p. 657-678, 2021.

THIRLWALL, A. P.; HUSSEIN, M. N. The Balance of Payments Constraint, Capital Flows and Growth Rate Differences between Developing Countries. Oxford Economic Papers, v. 34, n. 3, p. 498-510, 1982.

THIRLWALL, A. P. A Plain Man’s Guide to Kaldor’s Growth Laws. Journal of Post Keynesian Economics, v. 5, n. 3, p. 345-358, 1983.

TREGENNA, F. Characterising deindustrialisation: An analysis of changes in manufacturing employment and output internationally. Cambridge Journal of Economics, v. 33, p. 433-466, 2009.

TREGENNA, F. Deindustrialisation: An issue for both developed and developing countries. Em: J. Weiss e M. Tribe (eds.). Routledge Handbook of Industry and Development. Londres: Routledge, 2016, cap. 6, p. 97-116.

TREGENNA, F.; ANDREONI, A. Deindustrialisation reconsidered: Structural shifts and sectoral heterogeneity. UCL Institute for Innovation and Public Purpose, Working Paper Series (IIPP WP 2020-06), 2020.

VERGNHANINI, R. O debate sobre a mudança estrutural da economia brasileira nos anos 2000. Anais do VI Encontro Internacional da Associação Keynesiana Brasileira, 2013.

Publicado
2025-01-23
Como Citar
Marques Augusto Monteiro, J. G., & Zanchetta Borghi, R. A. (2025). A Desindustrialização Brasileira à Luz da Tradição Estruturalista: uma análise multissetorial (2000-2018). Brazilian Keynesian Review, 11(1), 124-155. https://doi.org/10.33834/bkr.v11i1.362
Seção
Artigos